quinta-feira, 8 de julho de 2010

Carta

   Sob o infinito céu azul que cerca minha janela eu te escrevo mais uma carta. Só mais uma, a última, quiçá. Eu espero que você entenda o porquê, amor.
  Não há nada tão mais límpido que o céu neste momento. O Sol de três da tarde reflete nos lagos que correm pelo outro lado do vidro. Não é a mesma luz que emana dos teus olhos quando você sorri, mas perduro em achar alguma semelhança entre ele e você. O calor que sinto é bom pra me lembrar o quanto você me esquentou naquele inverno. Inverno triste né? Acabou justamente com um tchau, meio tímido, por entre abraços desajeitados e um beijinho na bochecha. "Você vai ficar bem?". "Vou, vou sim. Ah... Se você puder me devolver a fotografia..."
   Eu ainda a guardo. Desde o dia em que parti para cá, longe. Cidade mais fria ainda esta que me fez lembrar de ti, da tua raiva pelo inverno, por não poderes mais mostrar tuas pernas e teus pés tão belos por onde quer que passasses. De não poderes mais tomar o sorvete que mais gostas. Limão? É, acho que ainda me lembro bem. Não faz tanto tempo assim, afinal. Foram 7 anos pensando em como te escrever esta ultima carta, amor.
   Agora estou aqui, meio embaraçado, sem saber o que escrever, com as minhas letras garranchadas (você dizia que não, dizia ser letra de médico. Mesmo assim, quem entende letras de médico?). 
   Como é que você está? Como foram seus dias desde que parti? Como vai Fliper, esse gato danado que só? Lembro-me bem que ele ainda era um filhote. Deve estar muito grande. Isso me faz pensar nos filhos que podíamos ter, mas não tivemos. Eu era muito novo, você muito nova. Nada é por acaso, não é mesmo?
   O balançar do onibus conseguiu me deixar bastante enjoado. Vou tentar dormir ouvindo aquela música que você sempre cantava quando ia fazer o café, logo pela manhã. Aquela, do Nando. Você se lembra?
   Consegui seu número de telefone ontem, com a Jacira, filha do jornaleiro aí do bairro. Tentei telefonar, mas ninguém atendeu. E nem quis deixar nenhum recado na secretária.
   Só queria te dizer que te amo, e vou voltar.

Ps. Esta carta que teus lindos olhos lêem agora chegará duas ou três horas antes de mim. Espera-me no portão, com aquele vestido todo cheio de flores que te presenteei no aniversário?


                                        Com muito amor, o seu e somente seu.

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