quinta-feira, 23 de maio de 2013

Laranja

    A gente tem que parar de querer carregar as mesmas pessoas pro resto da vida. Às vezes, vagando nos pensamentos, eu até acho que cada esforço que a gente faz pra manter alguém que está longe, perto, deveria ser um ano a mais de vida. É muita dedicação voltada a manter a intimidade, tentar alias as duas vidas tão diferentes, e eu não falo só de relacionamentos amorosos. Nem sempre as pessoas querem ser levadas adiante, nem sempre o destino conspira pra que as ruas se encontrem, nem sempre vale a pena o esforço de querer levá-las.
    A metáfora é a de que cada pessoa é uma laranja a se carregar nos braços. Há um número limitado de laranja que nos é possível levar. Há o cansaço de se abaixar para pegar as que, num ato de rebeldia, se jogam lá do alto. Há o fato - não muito aceito - de que, no caminho, muitas apodrecem e você tem que deixá-las no chão, abrindo espaço para as laranjas mais novas, maduras e docinhas.
    Entretanto, a vida, humorista do jeito que é, engraçadona, cheia dos seus sarcasmos fora de hora, vai te colocar num dilema, em frente a um muro alto. Do outro lado, você alcança o que mais deseja. Escolhe, então. Ou você se abraça nas laranjas, senta encostado no muro e chora, ou bota duas, três, nos bolsos, segura uma com os dentes e solta o resto pra escalar e agarrar seu objetivo.
    Sabe-se lá quantos pés de laranja há do outro lado do muro.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Povo da fogueira

    A tal da lua minguante que a gente descobriu logicamente o nome só apareceu de madrugada, mas foi na hora certa. Se ela tivesse vindo antes, iluminaria demais o céu com seu brilho e a chuva de meteoros não se destacaria de maneira tão incrível como aconteceu.
    A fogueira criou um calor a mais no momento, e botou um brilho intenso e diferente no rosto de nós três. As faíscas dançavam no ar, na nossa frente, perto do nosso nariz. Deviam querer encantar as estrelas, mas, nesse bailar, se misturavam a elas e por um momento o céu e o fogo se confundiam, entrelaçavam-se. Ou eram estrelas ou eram faíscas. Ou eram os dois. E mais pra frente o céu também se confundia com o mar no horizonte. Eram três elementos juntos. Tão diferentes mas se dando tão bem.
    Tenho certeza que foi por causa da energia tão boa que algumas estrelas se jogavam lá de cima pra poder sentar no calor da fogueira com a gente. Beber um vinho e ficar falando bobeira. Pensando no futuro, no passado, no presente, no impossível e no mais provável. Num certo momento em que formos postos à prova. Foi a noite de recarregar o peito de energia boa e sentimento do mar, espero que tenha dado certo pra vocês. Me avisem quando acabar, que a gente volta e recarrega, que nem um celularzinho na tomada.



A lua nascendo por entre os fios do teu cabelo,
por entre os dedos da minha mão,
Passaram certezas e dúvidas.