sexta-feira, 25 de março de 2011

O mágico teatro

Enquanto pessoas perguntam por que, outras pessoas perguntam por que não?
Até porque não acredito no que é dito, no que é visto.
Acesso é poder e o poder é a informação.
Qualquer palavra satisfaz.
A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz.
O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio.
Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia.
O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa.
A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento,
Na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela que não tem gesto.
Quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.

quinta-feira, 24 de março de 2011

A centésima dose

  Quão insignificante é a presença de alguém fisicamente quando existe amor?
       Não adianta duas pessoas estarem de mãos dadas se os corações estão distantes, mas uma vez que eles se juntam, só da pra separar com consentimento de ambos.

    Sabe aquelas coisas que voces faziam juntos? Você vai fazer sozinha. Sabe tudo aquilo que ele gosta? Comidas, bebidas, músicas, filmes, teatro, cores, tipo de sapato, de roupa, de cueca, de meia? Tudo isso vai te fazer lembrar dele. E você não tem noção do quanto isso vai te fazer sofrer. Afinal de contas, como você vai viver se, em cada suspiro que voce dá, lembra de quando ele falava que seu nariz é engraçado.
    E aquela rua que voce passa todo dia e sempre tropeça... Ele não vai mais estar aí pra dar risada da sua cara.
    A empada de peito de peru! MEU DEUS! Você nunca mais vai poder comer, nem empada, nem peito de peru. Muito menos juntos! Porque senão vai lembrar dele e vai virar choradeira.

                                                                   Pronto.
    Agora voce chora, chora, chora, chora, chora, chora, chora. Pode chorar MUITO. 
    Pensa no quanto seu mundo acabou, o quanto vai ser uma merda e o quanto voce quer que o mundo exploda. Encosta a cabeça no travesseiro e soluça até morrer.

    Mas, o mais importante é que voce não esqueça de tropeçar no mesmo lugar amanhã e, quando for lamentar a ausência dele, se tocar:
                     Como é que pode existir ausência se tudo o que voce vive tem parte dele?

Créditos à ela: Alexia s2 e seu tratamento de choque

terça-feira, 22 de março de 2011

De família

Ela não se permite falar besteiras, nem pensá-las. Obedece pai e mãe como se fosse uma escrava. "Bem, tudo vai de criação", é o que eles dizem quando eu comento sobre sua nova saia que vai até o pé.
Não corta o cabelo, não pinta as unhas, não usa chinelo. Sua música predileta... não existe. Ela não tem amigos que já tenham saído à noite e muito menos amigos que tenham namorado(a).
Na sua carteirinha de vacinação não falta um só carimbo, vai todos os meses ao médico mesmo tendo a saúde de ferro. Usa óculos, aparelho e não pratica nenhum esporte.
Se chove, ela reza. Se faz sol, ela reza. Se hoje tem carne no almoço, adivinhem?, ela reza. É a melhor aluna da sala, mas não consegue falar em público. Não usa biquini e nem vai a praia.
Sabem aonde ela vai parar? Ou vai encontrar algum homem que seja como ela, ou vai ficar sozinha pra sempre sem curtir a vida. Ela é, como diz o povo, uma menina de família.
Na minha opinião, não há vida quando não há o aproveitamento de oportunidades.
Aliás, se isso tudo, com todos esses pontos e vírgulas, significa ser uma menina de família. Eu, infelizmente - ou felizmente -, não sou.
Não são as tatuagens, nem o piercing, nem o cabelo pintado nem nada. Eu quero mesmo é colocar meu pé no mundo e rir alto, pra todo mundo ver minha felicidade. Quero poder dar "oi" e elogiar o sapato de desconhecidas no meio da rua. Quero uma coleção de sapatos de salto alto! E, meu bem, eu quero muito, MUITO, amor.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Imaginário e real

O imaginário:
- Oi, moço. Hã.. Você poderia aumentar um pouco a temperatura do ar condicionado? É que está bem frio aqui atrás.
- Ninguém mandou andar praticamente sem roupa.
- O quê?!
- É isso mesmo, menina. Ninguém mandou andar com um short-cinto que nem esse e sem blusa de frio. Filha minha não andaria assim na rua nem que me pagassem. Viajar de ônibus então, perto de gente estranha que eu não conheço. Se não tá satisfeita com a temperatura, desce.
- Olha aqui, meu senhor. Pelo visto você não sabe muito bem como é que se trata uma dama né? Primeiramente, eu uso esse tipo de roupa justamente porque eu não sou a sua filha e, se fosse, eu usaria do mesmo jeito. Segundo. Eu estou pagando pra sentar a minha bunda grande naquela poltrona e só descer em São José. Agora, se você quiser me deixar aqui, vai deixar o seu emprego também. Então, mais uma vez eu peço pra você aumentar a temperatura, sendo muito muito educada.

O real:
- Moço, o senhor pode aumentar um pouco a temperatura do ar condicionado? Tá bem friozinho ali atrás.
- Claro. (tictic)
- Obrigada.

Eu sempre me preparo para as situações mais diversas.

quinta-feira, 10 de março de 2011

I don't mind!

  Pouco me importa se minha blusa amassou, ou se meu cabelo desarrumou, ou então se meu tênis fica sujo a maioria do tempo. Isso apenas sugere que eu vivi alguma coisa nesse mundo, e continuo vivendo.
  Dizem que você só passou realmente pela vida quando leva dela uma cicatriz. Ah! Eu tenho várias! E são tão bonitas porque contém sempre uma história. Cada uma delas.
  Adoro estar sentir o cheiro da terra, adoro fazer coisas que sujam a roupa e principalmente tomar sorvete de coco na praia, em baixo do sol, pra poder ficar com o rosto todo cheio de bolinhas brancas. Então eu saio caminhando normalmente e só percebo quando as pessoas começam a olhar e rir de mim. 
  Isso é que é viver.
  Não tem essa de não comer milho só porque gruda no aparelho. A curtição mesmo é comer o máximo de milho e ainda tirar uma foto. É pagar aquele mico e rir de você mesma, tirar com a própria cara. Fazer pessoas tristes sorrirem só porque você ficou fazendo graça e surgiu um protótipo sorridente no canto direito da boca.
  E enfim, amar! Ah, esse tal de amor que parece perseguir corações assim tão dramáticos como o meu. - aliás, meu coração se daria muy bien em uma novela mexicana - Parece mover o mundo com o simples ato de ser abstrato, e com toda a incerta certeza e a segurança que ele nos traz. Ah, amor... Se eu pudesse te prender numa garrafa... Bem, eu não prenderia. Até porque, algo que nos traz mistério é muito mais interessante do que algo que nós conhecemos. Como uma cicatriz na barriga de outra pessoa.