quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mais uma história

  Relembre dos dias em que estivemos aqui, sentados, como se nada no mundo tivesse maior valor do que esse momento. Olhos nos olhos, sorrisos em baldes, brincadeiras sobre um futuro bom. É como se aqui dentro eu estivesse completo. Como se não me faltasse mais nada. O céu brilhava como nunca - é um dos meus defeitos sempre reparar no céu - e por mais frio que estivesse, meu coração permanecia aquecido.
  Mas aí você se foi. Deixou um bilhete perfumado, um número de telefone, um coração quebrado e um lugar vazio e gelado no banco da praça onde a gente se encontrava. Em compensação, sempre me ligou quando eu mais precisava. Você consegue ler a minha mente? Foi com pequenas doses semanais da sua doce voz que eu alimentei todo esse meu amor que exponho agora. 
   Sabe, a mudança da estação me deixou um vago pensamento em como você se vestiria nesse verão. Nos conhecemos no outono, e passamos o inverno juntos. Luvas, tocas, calças e mil blusas cobriam toda a sua beleza. Ainda bem que a mais bonita eu podia ver a toda hora: os seus olhos. Olhos azuis, de mar, de água, de pureza e de bondade. Azul da cor do céu. Um céu sem nuvens, sem pássaros. Um céu e só, pra bastar de tanta beleza junta.
   Era uma beleza infinita que não cabia dentro de ti. Tinha que ser jogada à quem estava ao redor. Aliás, você é uma mistura de sentimentos transbordantes que entram e permanecem em quem está ao seu lado. O olhar que instiga, o sorriso que contagia, e a simpatia. Ah... se a simpatia se personificasse seria você, sem tirar nem pôr.
   E eu me importava tanto! O que ela disse quando partiu? "Ah, eu preciso ir." Me deu um beijo e foi. Foi mesmo, sem olhar pra mim pela última vez. E como aquilo doeu em mim! Acordei atordoado em quase todos os dias que seguiram, pensando ter sido tudo um sonho. E pensando ter sido nocauteado também, de tanto que doía aqui dentro.
   Hoje, eu posso dizer que valeu. E que o verão vai ter um brilho à mais. Essa praça nunca me pareceu tão mais viva do que nessa tarde de sábado. O seu cabelo preto reluz no carrinho de sorvete. Você veste uma regata preta, uma saia rodada e sapatinhos que parecem ser de boneca. Ao se virar, repara em mim e leva um susto. Ah, eu ainda posso me lembrar do susto que levou quando eu disse que te amava, foi quase igual. Um susto e um sorriso. Sentimentos diferentes? Não, acho que não.. Não é o que seus olhos, esses delatores azuis, me dizem. Os meus, já meio bandidos, seguem seus movimentos até você vir sentar ao meu lado. Com um sorriso de criança, me oferece sorvete e apenas exclama:
   - Eu senti a sua falta... - E me beija. - Amor ...
   Ah! Como o verão me faz bem. Ou talvez seja porque você voltou. Amor ...

domingo, 3 de outubro de 2010

Para a reflexão

(...) Lembre-se de passar um tempo com as pessoas que ama, pois ela não estarão aqui para sempre. Lembre-se de dar um abraço carinhoso em seus pais, num amigo, pois não lhe custa um centavo sequer. Lembre-se de dizer 'eu te amo' ao seu companheiro, e às pessoas que ama, mas, em primeiro lugar, se ame... se ame muito.Um beijo e um abraço curam a dor quando vêm de lá de dentro. Por isso, valorize sua família e as pessoas que estão ao seu lado. Sempre.

sábado, 2 de outubro de 2010

Dentro de você, e só


    Reza uma antiga lenda, que existiu, não se sabe onde e nem quando, uma menina que conversava com as estrelas. Conversava não, ela as desejava, admirava. Poderia passar noites fitando-as, querendo descobrir o modo como se moviam, como falavam. A menina, muito atenta à todas, um dia descobriu uma que brilhava mais. Isso a deixou curiosa. O que poderia fazer com que aquela estrela se destacasse tanto? Por que é que, em meio a tanto brilho, poderia haver uma que brilhava mais e fazia a noite melhor por si só? Então, a menina resolveu, todas as noites, conversar com aquela estrela tão bonita pra ver se ela apenas se movia, respondendo com gestos.
  Passaram-se dias e mais dias, e nada da tal estrela bonitona se mover. Ao menos piscava. A menina já começava a desistir, quando, numa noite meio nublada, ouviu a estrela chamando-a. Ao sair na janela, já sem acreditar, um clarão a atingiu em cheio, e ali estava a estrela. Na sua frente, não mais no céu. De perto, assim, tão perto, era possível vê-la sorrir. Uma estrela que sorria, ora essa! E há no mundo coisa mais estranha? O brilho vinha dali, do dom que aquela estrela tinha em sorrir a todo momento. Foram momentos lindos os que se passaram depois disso. A estrela se mostrou uma ótima companheira e conseguiu, rapidamente, cativar a menina admiradora. Agora, a estrela vinha visitar a menina todos os dias em sua janela. Costumava vir às oito em ponto, sem atrasar.
   Um dia, chegou mais cedo. Sete e meia. Mas vinha com uma notícia não muito boa. Estava morrendo. Poucos meses e já não seria mais possível vê-la brilhar no céu. Pelo menos não todas as noites, como a menina se acostumara. Seriam raras as vezes em que a estrela brilharia, mas a intensidade seria ainda maior. Aquilo atingiu a menina como uma facada, um tapa na cara. Então, ela se recompôs e apenas sussurrou à estrela, que ainda continuava em sua frente, sorrindo, mas com uma tristeza no olhar.
   - Não me importa o tempo com que você brilhou lá em cima ou bem aqui do meu lado, o bem que me fez foi indescritível. E hoje... Bom, hoje eu não tenho mais palavras pra poder descrever. A partir do momento em que você parar de brilhar nesse meu céu, estrela, eu só espero que você se lembre de que tem alguém aqui olhando para onde você costumava ficar todas as noites. Vai, espalha esse teu brilho pra que outras galáxias possam conhecer-te. Eu não seria capaz de prender-te somente pra que eu veja. Deixo que as outras pessoas descubram dessa tua capacidade linda de sorrir. Se sentires uma vontade de voltar, gritar meu nome ou desanimar, pense que eu estou ao teu lado, e vai ser real. Até por quê, estará dentro de você, e será real.
   E ao dizer isso, a estrela tão brilhante foi perdendo o seu brilho, e então a menina acordou. Não houvera conversa alguma, e as estrelas ainda permaneciam todas no céu. A estrela que se destacava agora já não brilhava tanto. Fitando-a, a menina pensava vê-la piscar. Parecia sonho, mas a certeza de que havia sido real reinava no ar. Afinal, se está dentro de você, quem diz que não é real?