quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Beba

    - Vê uma dose de Coragem, faz favor. Coragem pra enfrentar a vida e conseguir ser feliz com o que ela mandar. Mesmo que seja um guarda-chuva quebrado. Pra outra utilidade, existe tudo.
    Vê uma dose dupla de Coragem pra passar por cima do medo de mudança e da opinião alheia. Pra conseguir pensar e agir ao mesmo tempo, sem que isso embarace toda a minha cabeça e me faça arrancar os cabelos.
    Pode ser que só uma dose -dupla, que seja- de coragem não seja o suficiente. Aqui rola degustação de Persistência? Ih, tá caro. Acho melhor aquela rodada de Vontade pra galera, porque, hoje, a gente só sai daqui amanhã.
    Mas, garçom, por favor, só não coloca aquele indie samba rock anos sessenta, senão a galera vai querer Saudade. E prepara aquela porçãozinha de Luxúria no capricho, pois, ontem, meu amigo, eu sai daqui só com uma porção de reflexão na barriga e muita Preocupação me subindo à cabeça.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Reza da manhã

De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada
são coisas distintas

Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?

Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!

Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira

E se antes um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem.

Coração na feira

   Não é isso que você tá pensando. O problema maior é que meu coração, de tanto dar umas muitas cambalhotas, acabou se confundindo de mão e pegou  na sua.
    Que nem criança quando se solta da mão da vó na feira porque saiu pra ver um brinquedo numa outra barraquinha e, quando volta, pega na mão da vó de outro, da vó errada.
    Daí sente vergonha, a mão suando, um turbilhão de desculpas na cabeça e da boca só sai "Ops..."
    Se essa não era minha avó, porque pegou na minha mão? Porque pegou no meu coração?

Má Gramática

Quem se esquece, se esquece de alguma coisa/ alguém.
Quem apenas esquece, esquece alguém/ alguma coisa.

    Só que, dessa vez, eu acabei me esquecendo de mim, em algum lugar adjunto adverbial.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Pensa bem,

    Um dia eu ainda explodo de tanto pensar. Ou implodo, numa nuvem de pensamentos avoados voando, imagens e histórias, e hipoteticamente falando, hipóteses. Com sentimentos, muitos não consentidos em seres sentidos, e todos sem sentido algum. 
    Um dia eu ainda explodo, porque uma simples discordância na regra geral já me torna uma grande filósofa e pensadora, imaginando qual seria a melhor saída pra esse labirinto que, ao invés de altos muros, é feito de pequenas pedras. Dá pra ver a saída, dá pra ver o final, mas mesmo assim o caminho se torna confuso, mutável, pulável. Às vezes o caminho mais fácil se torna chato, e, sem querer, juro!, eu me perco por outros.
    Mas, pensando bem, literalmente, o fato de podermos pensar, e sabermos disso, é o que nos diferencia do resto das coisas. Se não houvéssemos pelo menos a nós mesmos dentro dessa carcaça, dessa cabeça oca, não teríamos mais nada.
    Desculpem-me: cabeça oca não. Cabeça cheia de minhocas emaranhadas que se tornaram desculpas para quem tem medo de viver e também pra quem vive a vida mais do que os que descobriram essas minhocas interligadas dentro da cabeça já-não-mais-oca. Desculpa pros lerdos, pros loucos, pros tolos, pros inteligentes em demasiado. E tudo isso mais em que eu pensei agora.
    Um dia eu ainda explodo de tanto pensar, porque um dia todo mundo morre. Um dia eu ainda explodo de tanto pensar por aqueles que não pensam tanto assim e por aqueles que não sabem ao menos pensar. Só usam as minhocas bagunceiras pra fazer bagunça nas minhocas emaranhadas dos outros.
    É por isso que eu ainda explodo de tanto pensar: Porque, nesse momento, eu estou pensando em coisas que podem acontecer daqui a muitos anos, em coisas que vão acontecer nesse momento, em coisas que aconteceram, em coisas que eu posso fazer acontecer. Não dá pra viver o presente sem lembrar do passado e do futuro. É insano pensar que algumas pessoas vivem inconsequentemente e sem pensar que os pensamentos delas só pensam... em nada. Pensamento é raciocício e lógica, é criatividade e espontaneidade. Quem não tem preocupação, tristeza, preguiça, é porque não pensa que tem. E não tem. E não vive.
    Pensando agora, eu devia parar de me preocupar em pensar tanto. Porque, no pensamento é que a vida surge e é no mundo físico que ela se torna verdade. Só tenho que parar de pensar pra agir, daí sim seria um grande avanço para a humanidade.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Calvin & eu

Passou

Passou,
Como tudo passa
E algo em tudo que passa, fica
Passou,
Porque tudo passa
Porque tudo se pacifica

Vejo lágrimas no olhar,
Vejo gente a rodear
Coisa que ninguém explica,
Que o mistério faz calar.
Tá chovendo dentro dela
Quase que um temporal
Remoendo mil mazelas
De um romance sem igual
 
Scracho - Passa e fica

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O dia em que tudo foi igual

    Essa, obviamente, é a história do dia em que foi tudo igual. O tempo, traiçoeiro, decidiu se repetir dia após dia durante um certo... tempo. As pessoas vestiram as mesmas roupas, falaram oi com a mesma intonação. As que saíram atrasadas, continuaram atrasadas. As que sofreram, sofreram mais inúmeras vezes e as que sorriram, continuaram sorrindo por um bom... tempo.
    Via-se nas ruas, quem saísse na janela às sete da manhã, como num filme velho gravado numa fita, as mesmas pessoas, com os mesmos meros sentimentos, com as mesmas caras de: O que temos para hoje?, e o mesmo pensamento de que o ano passou muito rápido, e já é novembro, e Onde vamos passar o natal, família?
    Felizes mesmo foram os que naquele dia acharam dinheiro no chão, foram tomar um sorvete, reataram um namoro, ganharam um carro, passaram no vestibular (aiai, esse vestibular...), jogaram nos números certos na loteria ou, enfim, casaram com o amor. Mas ninguém, no fim, deu crédito demais ao que acontecera nessa repetição.
    A repetição leva ao cansaço, à nostalgia daquilo que, um dia, foi diferente. As coisas, antes surpreendentes e extraordinárias, viram praxe. Quiçá, tornam-se até chatas e incômodo.
    A vida precisa mesmo é de fazer alguma coisa inesperada, sair do comodismo, parar de cruzar os braços quando algum problema aparece. Doeu? Faz parte. Quem tá vivo sente dor mesmo. A não ser que você tenha aquela doença das pessoas que não sentem dor, aí tudo bem não doer mesmo...
    Mas, se você não é uma pessoa que tem essa doença, esse parágrafo vai ser uma grande lição de vida: A gente passa por testes a vida toda, pra ver se tá pronto pra ir embora. Entendeu? A gente é testado e tentado a vida toda... pra morrer! Então, tenta não fazer tudo igual todo dia a todo momento, porque tudo, na verdade, é isso o que a gente vive agora. Ao invés de ser uma das pessoas da história verídica acima, seja a pessoa que sempre olha pela janela e as vê repetindo a vida que vem pela frente e lamentando a que passou, só que tomando um café num dia, um chá no outro, um pedaço de torta no próximo...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Janela da alma

    Hoje choveu só na minha janela do ônibus. Todas as outras janelas esbanjavam sol e felicidade. Na minha, chovia uma chuvinha tonta, que embaçava a vista e a mente. Chuvinha insossa, que perdurou num congestionamento de 2 horas. Congestionamento mental. Congestionamento de planos e pensamentos, a construção de um grande cenário digno de Hollywood. Que, bem, nós sabemos: não vai acontecer.
    Alguém irritante batia os joelhos na parte de trás do meu banco. Parei por um instante para perceber, e, ritmadas batidas, lembraram-me as do teu coração. Que nunca o ouvi de pertinho, e só escutei assim, de longe. E a chuva, música dos céus, ainda descia graciosamente só pela minha janela, como um escape, como um limpador de janelas que só vê aquela, pequena e escura janela cheia de cortinas, suja. Chuvinha tonta, insossa. Não me deixava nem ver por onde seguia o ônibus. Achei que ia me perder nesse congestionamento físico e mental.
    Essa chuva, bendita!, me apagou os olhos pro mundo e me virou só pra voz que me falava na cabeça; Acredita! Vai em frente! Para de querer não-ser-feliz. A vida vai longe só que ela passa rápido também. 
     Só não passa a chuva que ainda cega a minha janela suja. A única janela des-feliz daquele ônibus.