segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Teus roxos

   Sua pele se marca muito fácil, menina. É por isso que você vive com essa pomada de tirar hematomas na bolsa? Basta um toque, de um desconhecido ou de um familiar, e já fica com a pele roxa, quase preta de marcas de uma pessoa que passou rapidamente por você. E as intensidades e colorações variam: Meio verdinho se o apertão foi só pra chamar a atenção. Roxo e azul, pra aquelas pessoas com uma intenção cruel disfarçada pela brincadeira. E preto, bem escuro, daqueles que demoram pra sair, pros que marcaram forte, doído, demoradamente.
   Genética engraçada essa, que fica combinando as coisas com o coração. Sua pele se marca tão facilmente quanto ele. Até o pensamento entra nessa jogada de cores e se marca pelas passagens de "desconhecidos e familiares". Não sei se até seu coração ou o pensamento tem as variações de cores, mas acredito que isso não importa mais a partir do momento em que a marca está ali - marcada -. Existem os que marcam forte no coração, no pensamento e até no braço. Existem os que só marcam no braço. E os que só marcam no pensamento. 
O relevante é brincar com essa metáfora de que você me deixou meio marcado, e esse papo todo é só pra chegar nesse assunto.
    Fiquei todo marcado de você no pensamento por um tempo, até o momento em que você me marcou no braço, na perna e no coração. Meio roxo, meio preto, com umas partes azuladas. Daí, ferrou. Quando marca o coração dá uma dorzinha de estar se entregando. Mas a dorzinha passa e dá lugar prum sentimento bom, tal de amor, paixão, fogo-de-palha, sei lá.
    A marca continua. As do coração são as que mais demoram pra sarar, você sabe. E o pior é que eu não sei se essa sua pomada de tirar hematomas vai funcionar... Eu nem sei se quero tentar.

Declaração

    Eu declaro: Não quero ter filhos! E é o que basta pra que todos ao redor me olhem de queixo caído e me chamem de tola. Que me desculpem aqueles que já os tem (como a minha mãe, e a sua também) mas existem tantas crianças perdidas sem pai nem mãe por aí... Qual o motivo pra colocar mais uma?
    Tá bom, eu sei que é lindo, que ficar grávida é mágico - discordo! - mas não quero, entende? Vai ser a mesma coisa se eu adotar e tratar meu filho como meu. E, se o marido quiser, eu até coloco algumas almofadas na barriga pra ele acariciar. Por que não?
    Quero um neném bem fofinho e gostoso, mas que não seja meu. E vai ser essa a parte boa: dar um bom futuro pra uma criança destinada a não ter tudo o que eu tive. Tipo mudar o futuro.

    Mesmo assim, não adianta. Eu falo, falo, falo. Mas as pessoas continuam dizendo que, um dia!, eu vou mudar de ideia.