domingo, 30 de maio de 2010

O Próximo Alvo, por Thaís Araújo ;)

                                                 Capítulo 1

  Era um novo dia. Alex, deitado ao meu lado, acariciava meus longos cabelos e, quando o olhei, deu uma piscadela.
 - Bom dia, meu amor – disse ele, com sua voz perfeita ressoando como anjos cantando no céu. Eu o fitei por um tempo. Queria ter certeza de que aquele momento era real.
  Alex e eu, Samantha, estávamos juntos a um certo tempo, mas isso não me impedia de ainda duvidar de sua existência perto de mim.
  O quarto dele girava ao nosso redor, como um planeta e sua órbita. Pra mim, naquele momento, só existíamos nós e nada mais.
  Um sorriso desenhou-se em minha boca, mas logo retorcido ao cair na realidade.
  - Que horas são, Alex? Preciso ir.
 Mesmo com todo esse tempo juntos, eu ainda escondia um segredo de Alex. Eu trabalhava para o governo, aniquilando chefes da máfia friamente. Para Alex, eu era apenas uma simples secretária de um sério cardiologista em Nova York.
  - Ora essa – murmurou ele – Você mal acorda e já quer ir embora? E, seja lá para o que você estiver apressada, já deve estar atrasada.
  Peguei o pulso com traços fortes de Alex e o virei para constatar o que eu não queria: três horas da tarde.
  Fazendo um biquinho indesejado, que Alex, em seus momentos de gracinha me dissera que amava, reclamei:
  - Dormi tanto assim?
 Um sorriso irônico e maroto surgiu no canto da boca de Alex.
  - Meu bem.. Você sabe que horas acabamos?
  O sorriso agora se tornava mais aparente. Seus lábios se curvavam formando uma curva sutil em seu rosto. Esse sorriso deixava seu rosto ainda mais harmonioso. Seus cabelos loiros e curtos faziam um par desejável com os olhos cor de petróleo. Eu o achava bonito demais para um simples mortal.
  Virando-me na cama, coloquei um dos braços em sua cintura e acariciei suavemente seu rosto. Eu quase conseguia ver o meu próprio reflexo em seu olhar constante.
  - Qual é o motivo dos seus mistérios? – Perguntou Alex, cauteloso. Parecia que tinha passado a noite inteira bolando a pergunta certa a fazer.
  - Do que você está falando? – respondi, num sussurro. Minha voz não era das melhores. Eu não sabia mentir quando era pega de surpresa. Não para Alex.
  Pensei ter visto uma pequena ruga em sua testa, até ele relaxar e ela desaparecer.
  - Toca esse maldito telefone e você sai correndo, sem ao menos me dizer o que aconteceu.
  - É o meu trabalho, Alex.
  - Eu sei! E é isso que mais me intriga. Porque eu nunca vi uma secretária trabalhar em um sábado à noite.
  Engoli a seco. Ele revirou os olhos e se levantou. Caminhou a passos duros em direção ao banheiro. Era incrível como ele ficava sexy até de samba canção preta e cara séria. Eu devia parar de reparar nisso.
  Além disso, Alex precisava saber da minha realidade o mais rápido possível. Não me agradava o fato de mentir a ele. Eu o amava. Era uma das primeiras vezes em todos esse tempo que estávamos juntos, que eu me jogava tais verdades na própria cara.
  O toque insistente do celular me tirou do transe. Passei a mão nos cabelos que permaneciam presos num coque bem frouxo e os soltei.Antes que eu pudesse atender, Alex apareceu na porta do banheiro.
  - Se você for sumir depois desse telefonema também, pelo menos passe para me dar um tchau. Isso se você não for sair pela janela – e saiu.
  Quis pegar o travesseiro e espancá-lo até virar um monte de trapos. Mas isso só deixaria Alex mais assustado. Ao invés disso, atendi o telefone.
  - O que você quer, Jared? – falei, com a voz mais amarga que eu podia ter.
  - Uau, vejo que a minha funcionária preferida acordou com o pé esquerdo hoje.
  - Você não tem outro para encher, querido patrãozinho?
  - Samantha, você sabe que esse cargo é único e somente seu.
  Nesse meio tempo, Alex saiu do banheiro, passou pela cama e puxou o meu pé. Ele nunca permanecia sério por muito tempo. Estava dirigindo-se à sala, onde sempre sentava para tocar um violão, logo pela manhã.
  - Fale logo, Jared. Eu ainda tenho que resolver umas coisas.
  Senti Jared hesitar. Queria falar de assuntos sérios, mas continuou fazendo piada.
  - Você não estava com o seu namoradinho hoje, Sam? A noite não deve ter sido tão boa.
 Grunhi. Jared me respeitava e logo parou.
  - Ok, Samantha. Preciso de você aqui e agora. Temos um novo alvo.
  Suspirei. As coisas entre mim e Alex estavam feias. Pareciam não estar, mas estavam. Nós realmente precisávamos de um tempo para acertar isso.
  - Ah Jared! Dê-me uns minutinhos. Só isso. Por favor! – implorei, forçando um pouco na dramaticidade.
  - Com essa voz você me mata, garota. – uma risadinha ecoou no celular, e eu agradeci por ter um chefe tão flexível a mim. – Nada mais do que duas horas. E vê se me apresenta logo esse rapaz aí, Sam. – e desligou.
 Respirei fundo e saí do quarto. Passei pelo espelho do corredor e me olhei de cima a baixo. O cabelo preto bagunçado e a camisa de Alex que eu vestia me tiravam a imagem mortal que eu sempre tivera de mim mesma.
  - Quem você quer ser, Samantha? – me perguntei, olhando minha imagem no espelho. – Basta uma ligação e você deixa de ser o que é.
  O celular estalava à medida que era apertado em minha mão direita. Apertei-o mais até ouvir um estalo mais alto e murmurei, caminhando pelo corredor estreito e bem-decorado da casa de Alex.
  - Eu já vou pro inferno mesmo.
  Chegando à sala, vi Alex sentado no sofá com seu violão. A meia luz que entrava pela janela parecia posicionada por profissionais, afim de deixá-lo com uma aparência ainda mais próxima à de um deus. A canção que ele tocava falava alguma coisa sobre amores, mas eu estava concentrada demais em descobrir a forma certa de começar que nem reparei na letra.
  Sentei-me ao seu lado e ele me olhou, ainda tocando e cantando para ele mesmo. Os olhos tensos demonstravam preocupação.
  - Alex... Não fique assim, amor. – comecei.
  - Como eu posso não ficar? Você me esconde coisas. Coisas que não devem ser tão boas. – ele respondeu, deixando de lado o violão e segurando minhas mãos.
  - Alex.. – suspirei e abaixei a cabeça, encarando o vazio. – Eu tenho medo.
  - Medo de quê, meu amor?
 Ele agora passava as mãos em meu rosto, e o levantou para fitar os meus olhos confusos.
  - O que é afinal, Samantha? – perguntou ele, sério, porém, triste.
 Hesitei e o encarei, tentando achar em seus olhos escuros como a noite algum jeito mais fácil de dizer-lhe aquilo.
  - Eu não posso te dizer. Não agora. Preciso organizar umas coisas antes.
  - Tudo bem, tudo bem. – disse ele, por fim.
  O meu meio sorriso favorito desabrochou no canto de sua boca. Sorri também, pensando na importância daquele homem em minha vida.
  - Eu te amo, Alex. – murmurei – Desculpe-me por te esconder coisas.
 Ele sorriu ainda mais e puxou-me para um beijo.
  - Eu também te amo, Samantha. E eu te aceito por ser estranhamente misteriosa pra mim.
                                                          (...)

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