segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Os livros parecem escritos pra mim

" Veio o momento em que pude sentir que não estávamos mais simplesmente travando um embate de palavras, a situação entre nós já se havia definido. Quando reflito, agora, sobre esse momento, sou tentado a empregar o idiota tradicional do amor. Tenho vontade de falar por meio de metáforas de calor, ardor, muralhas se derretendo em face de paixões irresistíveis. Estou ciente de como essas expressões podem parecer pomposas, mas no final acho que são exatas. Tudo pra mim havia mudado e palavras que antes eu jamais havia compreendido passaram, de uma hora para outra, a fazer sentido.
  Isso veio como uma revelação e, quando afinal tive tempo para assimilar o fato, perguntei-me como conseguira viver tantos anos sem ter aprendido uma coisa tão simples. Estou falando menos de desejo do que de conhecimento, a descoberta de que duas pessoas, por meio do desejo, podem criar algo bem mais poderoso do que cada uma delas poderia criar isoladamente. Esse conhecimento me modificou, eu acho, e a rigor me fez sentir mais humano. Ao pertencer a Sophie, passei a sentir como se eu pertencesse também a todo mundo. Meu verdadeiro lugar no mundo, vim a descobrir, estava em algum ponto para além de mim mesmo e, ainda que esse lugar ficasse dentro de mim, era também impossível de se localizar. Tratava-se do minúsculo fosso que separa o eu do não-eu e, pela primeira vez na vida, eu via esse lugar perdido como o centro exato do mundo. "
A trilogia de Nova York, de Paul Auster. pág 253, conto O Quarto Fechado.

Um comentário:

  1. Pior hein! Eu não aguento aquele "desculpa se te chamo de amor" muito meu... (Exceto o jardim lá, e aquelas coisas eróticas HAHA)
    SZ

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