terça-feira, 22 de março de 2011

De família

Ela não se permite falar besteiras, nem pensá-las. Obedece pai e mãe como se fosse uma escrava. "Bem, tudo vai de criação", é o que eles dizem quando eu comento sobre sua nova saia que vai até o pé.
Não corta o cabelo, não pinta as unhas, não usa chinelo. Sua música predileta... não existe. Ela não tem amigos que já tenham saído à noite e muito menos amigos que tenham namorado(a).
Na sua carteirinha de vacinação não falta um só carimbo, vai todos os meses ao médico mesmo tendo a saúde de ferro. Usa óculos, aparelho e não pratica nenhum esporte.
Se chove, ela reza. Se faz sol, ela reza. Se hoje tem carne no almoço, adivinhem?, ela reza. É a melhor aluna da sala, mas não consegue falar em público. Não usa biquini e nem vai a praia.
Sabem aonde ela vai parar? Ou vai encontrar algum homem que seja como ela, ou vai ficar sozinha pra sempre sem curtir a vida. Ela é, como diz o povo, uma menina de família.
Na minha opinião, não há vida quando não há o aproveitamento de oportunidades.
Aliás, se isso tudo, com todos esses pontos e vírgulas, significa ser uma menina de família. Eu, infelizmente - ou felizmente -, não sou.
Não são as tatuagens, nem o piercing, nem o cabelo pintado nem nada. Eu quero mesmo é colocar meu pé no mundo e rir alto, pra todo mundo ver minha felicidade. Quero poder dar "oi" e elogiar o sapato de desconhecidas no meio da rua. Quero uma coleção de sapatos de salto alto! E, meu bem, eu quero muito, MUITO, amor.

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