quinta-feira, 23 de maio de 2013

Laranja

    A gente tem que parar de querer carregar as mesmas pessoas pro resto da vida. Às vezes, vagando nos pensamentos, eu até acho que cada esforço que a gente faz pra manter alguém que está longe, perto, deveria ser um ano a mais de vida. É muita dedicação voltada a manter a intimidade, tentar alias as duas vidas tão diferentes, e eu não falo só de relacionamentos amorosos. Nem sempre as pessoas querem ser levadas adiante, nem sempre o destino conspira pra que as ruas se encontrem, nem sempre vale a pena o esforço de querer levá-las.
    A metáfora é a de que cada pessoa é uma laranja a se carregar nos braços. Há um número limitado de laranja que nos é possível levar. Há o cansaço de se abaixar para pegar as que, num ato de rebeldia, se jogam lá do alto. Há o fato - não muito aceito - de que, no caminho, muitas apodrecem e você tem que deixá-las no chão, abrindo espaço para as laranjas mais novas, maduras e docinhas.
    Entretanto, a vida, humorista do jeito que é, engraçadona, cheia dos seus sarcasmos fora de hora, vai te colocar num dilema, em frente a um muro alto. Do outro lado, você alcança o que mais deseja. Escolhe, então. Ou você se abraça nas laranjas, senta encostado no muro e chora, ou bota duas, três, nos bolsos, segura uma com os dentes e solta o resto pra escalar e agarrar seu objetivo.
    Sabe-se lá quantos pés de laranja há do outro lado do muro.

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