segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O barco

    O mar nos leva a caminhos inexplicáveis entre uma correnteza e outra. Um caminho tortuante, uma brisa serena, a aparição de um grupo de golfinhos. Pra apreciar a vista é só se levantar e ver. Muitos não gostam, sentem-se enjoados, mareados, pois a viagem é longa e cansativa. E custa tempo, observação, orientação pelas estrelas.
   Mas uma boa viagem só é feita por aqueles que se garantem em seus barcos. E o meu, veja bem, sei que é duro feito pedra, com uma beleza indescritível porque foi talhado pelo vento e moldado pela dureza da água do tempo batendo no seu casco a todo momento. Eu sei que nesse barco cabe muito mais do que só quilos de confiança e uma vontade de estar junto. Meu barco tá preparado pra tudo o que esse marzão tem a oferecer.

     Que venham as trombas d'água, os ataques de tubarão, as imposições do universo pro meu barco não permanecer na superfície, que eu aposto o que você quiser que ele fica. Aposto todos os peixes que nele eu pesquei, todas as sereias que um dia já avistei. Aposto os anzóis, as garrafas de água potável. Aposto-me!
      Afinal, casca grossa, meu bem, te digo que é só de primeira impressão. Esse barco, visto assim de dentro, é um baita dum iate 5 estrelas edição luxo de colecionador. Daqueles que não se revende, e que tem um nome feio que todo mundo gosta, com uma pintura meio caída de tanto navegar pelos sete mares.
     Pouco me importa, também, se um dia vai ser tornar um barco oficial intendente do ar, um barco engenheiro, um barco publicitário. O objetivo é que se imortalize de maneira que daqui a uns anos, nos reencontros marinhos, a gente possa se abraçar assim e contar do mesmo jeito que contamos hoje, de rir até doer, e passar horas discutindo sobre a pena de morte e a crise brasileira pós-ditadura militar. Que o trio de três se torne quatro, cinco. 

     Até porque, quantas criaturas do mar ainda podem adentrar nesse barco?

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