segunda-feira, 11 de julho de 2011

Insônia

    São 21h e você já tomou banho, jantou e escovou os dentes. Assistindo TV, sente bater aquela molezinha, aquele soninho gostoso que parece que te desliga. Você pensa "Poxa, é a primeira vez em alguns meses que eu vou dormir cedo. Ufa!". A cama quentinha parece que se moldou em você. Os cobertores e os travesseiros estão na posição mais confortável possível. Uma mexidinha e tudo já iria pro espaço. Deitada, a mente parece voltar a funcionar a todo vapor.
    De repente, a senhora se lembra das contas que tem que pagar amanhã, e de levar a cadeira que quebrou pra consertar, e do almoço pra fazer, do colchão pra emprestar porque chega aquela avó lá de não-sei-onde do sul. Enfim, você praticamente faz uma lista mental - provavelmente esquecida pela manhã - de tudo o que fará no dia seguinte. Até o momento em que o corpo começa a relaxar.
    Mas como dito e repetido aqui, o destino é uma coisa ma-ra-vi-lho-sa. Quando o soninho volta, o bebê da vizinha de cima, que nasceu ontem, começa a chorar mais alto que o Maracanã em dia de clássico. Ok, não é tão alto assim, mas ele está chorando e você está ouvindo. Ao mesmo tempo, o velho de baixo liga algum aparelho que faz o barulho de um secador de cabelo, um barulho contínuo e deliciosamente ensurdecedor. É lógico que a uma altura dessas você já cansou de tentar dormir e foi interfonar pro porteiro, que deveria estar no banheiro e não atendeu. Como boa brasileira, chega à segunda tentativa, que é a velha façanha de colocar o travesseiro na cabeça. Mas, algum colega de sofrimento decide interfonar ao porteiro insistentemente, e, como você mora com a janela do quarto - a do quarto! e eu falo do destino, ninguém acredita - virada para a guarita, escuta todos os toques desesperados do interfone. A vontade é de morrer. Você xinga baixinho e decide ser uma dama. Vai até a cozinha, faz um chá Bons Sonhos e volta com a caneca fumegante pra cama. Digita no youtube: músicas para relaxar e dormir bem.
    Parou. Pensa um pouco. Olha o nível. Esquece o youtube, desliga o computador e concentra. O chá já foi inteiro pra dentro, e olha que tava quente. Os toques alucinados do interfone pararam, o bebê deve estar aconchegado no colo da mãe, e pelo visto, o senhor do andar de baixo já deve ter terminado o cabelo. Ufa. E aí, cadê o sono?
    Chega então, a hora do ócio criativo. É o momento da noite em que saem as mais lindas poesias, as maiores frases de efeito, os textos mais comentados do blog. Mas não dá tempo de ir buscar papel e caneta não, o sono tá chegando e o olhinho começa a fechar. Dá de novo aquela molezinha, o colchão vira mais gostoso e quentinho, a respiração fica fraquinha, devagar, compriiiida.
    Daí glog-glog-glog, o gato vomita no tapete. Sabe? Aquele barulho chato de gato querendo vomitar, que glog-glog pra lá e glog-glog pra cá até que blé, vomita.E você pensa no tapete, novinho, que combinava com a parede da sala e com a toalha da mesa de canto. Pensa no ex-namorado maldito, que deu o gato maldito, que vomitou no tapete tão bonzinho. Levanta, limpa, xinga o gato até a orelha dele ficar verde e cair. Deita, olha no relógio e já passaram das três.
    A partir disso, meu bem, você só tem duas escolhas. Ou desiste de dormir de uma vez e vai assistir TV e passar pano na casa, ou põe o santo de ponta cabeça e reza pra ver se dorme o que sobrou.

Um comentário:

  1. adoro teus textos, prima! Te indiquei no meu site *-*

    www.wix.com/sdeccache/deccache


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