sábado, 2 de outubro de 2010

Dentro de você, e só


    Reza uma antiga lenda, que existiu, não se sabe onde e nem quando, uma menina que conversava com as estrelas. Conversava não, ela as desejava, admirava. Poderia passar noites fitando-as, querendo descobrir o modo como se moviam, como falavam. A menina, muito atenta à todas, um dia descobriu uma que brilhava mais. Isso a deixou curiosa. O que poderia fazer com que aquela estrela se destacasse tanto? Por que é que, em meio a tanto brilho, poderia haver uma que brilhava mais e fazia a noite melhor por si só? Então, a menina resolveu, todas as noites, conversar com aquela estrela tão bonita pra ver se ela apenas se movia, respondendo com gestos.
  Passaram-se dias e mais dias, e nada da tal estrela bonitona se mover. Ao menos piscava. A menina já começava a desistir, quando, numa noite meio nublada, ouviu a estrela chamando-a. Ao sair na janela, já sem acreditar, um clarão a atingiu em cheio, e ali estava a estrela. Na sua frente, não mais no céu. De perto, assim, tão perto, era possível vê-la sorrir. Uma estrela que sorria, ora essa! E há no mundo coisa mais estranha? O brilho vinha dali, do dom que aquela estrela tinha em sorrir a todo momento. Foram momentos lindos os que se passaram depois disso. A estrela se mostrou uma ótima companheira e conseguiu, rapidamente, cativar a menina admiradora. Agora, a estrela vinha visitar a menina todos os dias em sua janela. Costumava vir às oito em ponto, sem atrasar.
   Um dia, chegou mais cedo. Sete e meia. Mas vinha com uma notícia não muito boa. Estava morrendo. Poucos meses e já não seria mais possível vê-la brilhar no céu. Pelo menos não todas as noites, como a menina se acostumara. Seriam raras as vezes em que a estrela brilharia, mas a intensidade seria ainda maior. Aquilo atingiu a menina como uma facada, um tapa na cara. Então, ela se recompôs e apenas sussurrou à estrela, que ainda continuava em sua frente, sorrindo, mas com uma tristeza no olhar.
   - Não me importa o tempo com que você brilhou lá em cima ou bem aqui do meu lado, o bem que me fez foi indescritível. E hoje... Bom, hoje eu não tenho mais palavras pra poder descrever. A partir do momento em que você parar de brilhar nesse meu céu, estrela, eu só espero que você se lembre de que tem alguém aqui olhando para onde você costumava ficar todas as noites. Vai, espalha esse teu brilho pra que outras galáxias possam conhecer-te. Eu não seria capaz de prender-te somente pra que eu veja. Deixo que as outras pessoas descubram dessa tua capacidade linda de sorrir. Se sentires uma vontade de voltar, gritar meu nome ou desanimar, pense que eu estou ao teu lado, e vai ser real. Até por quê, estará dentro de você, e será real.
   E ao dizer isso, a estrela tão brilhante foi perdendo o seu brilho, e então a menina acordou. Não houvera conversa alguma, e as estrelas ainda permaneciam todas no céu. A estrela que se destacava agora já não brilhava tanto. Fitando-a, a menina pensava vê-la piscar. Parecia sonho, mas a certeza de que havia sido real reinava no ar. Afinal, se está dentro de você, quem diz que não é real? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário