segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Ju

    Cantando Ana Carolina ela tem um charme incrível. Um vestido de patinhos e um sapatinho amarelo, ela segura o microfone do karaokê com a mão direita num match perfeito de firmeza e delicadeza. A moça que se apresentou como Jú pediu desculpas pela primeira vez cantando, e seu rosto deu uma coradinha de leve, mas a franja do cabelo escuro escondeu sua cara de medo do palco.
Ah, Ju. Deixa de lado essa vergonha e solta seu lado cantora de uma vez. Roda esse vestido e se joga nos solos que a música permite. Ela canta olhando pra mim, como se soubesse o que eu penso. 
    Ou ela olha pra todo mundo, como que vendo ninguém, pra disfarçar? Que a canção toque na hora errada, na hora certa, mas que você esteja aqui pra cantarolar ela no meu ouvido assim. Mesmo meio desafinado, quem se importa... Hoje em dia isso tá até na moda. Vai entender...
     Ju, não vai embora. Volta pro palco! Os seus patinhos, sapatinhos, tudinho, me chamou a atenção. E como você me chama a atenção. Se quiser eu até canto Ana contigo. Aquela lá, de amor. Sai de perto desse cara... Pediu a conta? Já vai embora?
    Foi. Até mais, Ju. Juliana? Judite? Julia? Ah, a gente se esbarra...

O barco

    O mar nos leva a caminhos inexplicáveis entre uma correnteza e outra. Um caminho tortuante, uma brisa serena, a aparição de um grupo de golfinhos. Pra apreciar a vista é só se levantar e ver. Muitos não gostam, sentem-se enjoados, mareados, pois a viagem é longa e cansativa. E custa tempo, observação, orientação pelas estrelas.
   Mas uma boa viagem só é feita por aqueles que se garantem em seus barcos. E o meu, veja bem, sei que é duro feito pedra, com uma beleza indescritível porque foi talhado pelo vento e moldado pela dureza da água do tempo batendo no seu casco a todo momento. Eu sei que nesse barco cabe muito mais do que só quilos de confiança e uma vontade de estar junto. Meu barco tá preparado pra tudo o que esse marzão tem a oferecer.

     Que venham as trombas d'água, os ataques de tubarão, as imposições do universo pro meu barco não permanecer na superfície, que eu aposto o que você quiser que ele fica. Aposto todos os peixes que nele eu pesquei, todas as sereias que um dia já avistei. Aposto os anzóis, as garrafas de água potável. Aposto-me!
      Afinal, casca grossa, meu bem, te digo que é só de primeira impressão. Esse barco, visto assim de dentro, é um baita dum iate 5 estrelas edição luxo de colecionador. Daqueles que não se revende, e que tem um nome feio que todo mundo gosta, com uma pintura meio caída de tanto navegar pelos sete mares.
     Pouco me importa, também, se um dia vai ser tornar um barco oficial intendente do ar, um barco engenheiro, um barco publicitário. O objetivo é que se imortalize de maneira que daqui a uns anos, nos reencontros marinhos, a gente possa se abraçar assim e contar do mesmo jeito que contamos hoje, de rir até doer, e passar horas discutindo sobre a pena de morte e a crise brasileira pós-ditadura militar. Que o trio de três se torne quatro, cinco. 

     Até porque, quantas criaturas do mar ainda podem adentrar nesse barco?

sábado, 1 de dezembro de 2012

Querido Deus,

    Bom retornar àquela nossa conversa de "pra onde estamos indo?", pois suas decisões na vida do próximo andam me complicando um pouco. O que é que você tem na cabeça pra me aprontar mais uma dessas, meu deus? A vida tava boa, eu não tava reclamando de nada, tudo estável e agradável. Mas daí você me manda um caos total pra vida dessa pessoinha aqui, e, PIOR!, envolvendo mais pessoas.
    Deus, Deus, espero que seus planos sejam bons para isso tudo que tá passando aqui na Terra. Porque, além de instalar o caos, ainda agrega a ele um sentimento bom. Mas você sabe fazer as coisas, hein?!
    Ultimamente venho te questionado com mais frequência, porque nao acredito que isso tudo tenha sido plano seu. Quem anda te ajudando aí em cima? E meu anjo da guarda, onde é que tá esse moleque que só sabe ficar aí batendo asa sem rumo e sem nexo? Anjo idiota. Ao invés de me guiar no meu plano espiritual, só serve pra atirar essas flechas desnorteadas.
    Tô tentando te aprender, Deus. Ver se eu consigo entender esse negócio de viver um dia de cada vez, e aproveitar as pessoas, e aproveitar o que ainda nos resta. Até porquê, quem sabe o que vai acontecer amanhã?
    Deusinho, ajuda-me a perceber que tudo isso que tá acontecendo é bom, e que nada é por acaso. Proíba-me de querer adiantar todas as coisas, e de pensar demais nelas também. Eu sei que algum motivo tem pras coisas virem à tona. E pra acabarem. E pra renascerem. Tomara que esse motivo seja crescimento e experiência.
    Tudo o que antes eu julgava errado agora me questiona e me aponta. Julga-me errada. Deixa de fora minhas feridas mais expostas e me despe frente a todos. E assim, nua, começo a construir todas as minhas verdades de novo.
    Enfim, espero que o futuro me surpreenda. Aviso dado? Que tudo isso se resolva do jeito que tiver que ser, e que eu seja feliz. E as outras pessoas também. Perto ou longe. Amém.

Uns nós



   Não sei se a vida é só essa. Não sei se a gente tem outra chance de mudar o que já tá escrito - e se realmente está -. O que me importa é que a vida me deu um nó de doer o dedo pra tentar tirar. O que me incomoda, é que dessa vez eu coloquei a felicidade tão longe que minha vontade de buscá-la é maior do que o comodismo do bem-estar natural e rotineiro. 
    O medo de mudança se balança à medida que os dias passam, e tudo fica claro: existem dois caminhos a seguir em tudo o que se faz na vida. Lições são aprendidas em ambos, mas pra serem incorporadas, precisam ser vivenciadas. É fácil contar uma experiência vivida para alguém, e esperar que essa pessoa a absorva como você a absorveu vivendo. É preciso passar por algumas situações para a mente mudar, e as opiniões se diversificarem. Eu, que antes achava isso, mudei porque a gente aprende que pré-conceito sempre erra.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Beba

    - Vê uma dose de Coragem, faz favor. Coragem pra enfrentar a vida e conseguir ser feliz com o que ela mandar. Mesmo que seja um guarda-chuva quebrado. Pra outra utilidade, existe tudo.
    Vê uma dose dupla de Coragem pra passar por cima do medo de mudança e da opinião alheia. Pra conseguir pensar e agir ao mesmo tempo, sem que isso embarace toda a minha cabeça e me faça arrancar os cabelos.
    Pode ser que só uma dose -dupla, que seja- de coragem não seja o suficiente. Aqui rola degustação de Persistência? Ih, tá caro. Acho melhor aquela rodada de Vontade pra galera, porque, hoje, a gente só sai daqui amanhã.
    Mas, garçom, por favor, só não coloca aquele indie samba rock anos sessenta, senão a galera vai querer Saudade. E prepara aquela porçãozinha de Luxúria no capricho, pois, ontem, meu amigo, eu sai daqui só com uma porção de reflexão na barriga e muita Preocupação me subindo à cabeça.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Reza da manhã

De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada
são coisas distintas

Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?

Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!

Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira

E se antes um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem.

Coração na feira

   Não é isso que você tá pensando. O problema maior é que meu coração, de tanto dar umas muitas cambalhotas, acabou se confundindo de mão e pegou  na sua.
    Que nem criança quando se solta da mão da vó na feira porque saiu pra ver um brinquedo numa outra barraquinha e, quando volta, pega na mão da vó de outro, da vó errada.
    Daí sente vergonha, a mão suando, um turbilhão de desculpas na cabeça e da boca só sai "Ops..."
    Se essa não era minha avó, porque pegou na minha mão? Porque pegou no meu coração?

Má Gramática

Quem se esquece, se esquece de alguma coisa/ alguém.
Quem apenas esquece, esquece alguém/ alguma coisa.

    Só que, dessa vez, eu acabei me esquecendo de mim, em algum lugar adjunto adverbial.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Pensa bem,

    Um dia eu ainda explodo de tanto pensar. Ou implodo, numa nuvem de pensamentos avoados voando, imagens e histórias, e hipoteticamente falando, hipóteses. Com sentimentos, muitos não consentidos em seres sentidos, e todos sem sentido algum. 
    Um dia eu ainda explodo, porque uma simples discordância na regra geral já me torna uma grande filósofa e pensadora, imaginando qual seria a melhor saída pra esse labirinto que, ao invés de altos muros, é feito de pequenas pedras. Dá pra ver a saída, dá pra ver o final, mas mesmo assim o caminho se torna confuso, mutável, pulável. Às vezes o caminho mais fácil se torna chato, e, sem querer, juro!, eu me perco por outros.
    Mas, pensando bem, literalmente, o fato de podermos pensar, e sabermos disso, é o que nos diferencia do resto das coisas. Se não houvéssemos pelo menos a nós mesmos dentro dessa carcaça, dessa cabeça oca, não teríamos mais nada.
    Desculpem-me: cabeça oca não. Cabeça cheia de minhocas emaranhadas que se tornaram desculpas para quem tem medo de viver e também pra quem vive a vida mais do que os que descobriram essas minhocas interligadas dentro da cabeça já-não-mais-oca. Desculpa pros lerdos, pros loucos, pros tolos, pros inteligentes em demasiado. E tudo isso mais em que eu pensei agora.
    Um dia eu ainda explodo de tanto pensar, porque um dia todo mundo morre. Um dia eu ainda explodo de tanto pensar por aqueles que não pensam tanto assim e por aqueles que não sabem ao menos pensar. Só usam as minhocas bagunceiras pra fazer bagunça nas minhocas emaranhadas dos outros.
    É por isso que eu ainda explodo de tanto pensar: Porque, nesse momento, eu estou pensando em coisas que podem acontecer daqui a muitos anos, em coisas que vão acontecer nesse momento, em coisas que aconteceram, em coisas que eu posso fazer acontecer. Não dá pra viver o presente sem lembrar do passado e do futuro. É insano pensar que algumas pessoas vivem inconsequentemente e sem pensar que os pensamentos delas só pensam... em nada. Pensamento é raciocício e lógica, é criatividade e espontaneidade. Quem não tem preocupação, tristeza, preguiça, é porque não pensa que tem. E não tem. E não vive.
    Pensando agora, eu devia parar de me preocupar em pensar tanto. Porque, no pensamento é que a vida surge e é no mundo físico que ela se torna verdade. Só tenho que parar de pensar pra agir, daí sim seria um grande avanço para a humanidade.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012